Escrito e dirigido por Silvero Pereira, ator e pesquisador cearense, e pela diretora gaúcha e professora Jezebel De Carli, QUEM TEM MEDO DE TRAVESTI? é um teatro-musical e tem como base narrativa a construção histórica da travestilidade, onde travestis exerciam papel de protagonismo no teatro, cabendo-lhes ocupar lugar de destaque nas principais encenações do teatro de revista e, logo em seguida, chegando à decadência, exclusão e marginalização artístico-social.
Para Silvero Pereira, a peça é um olhar artístico sobre o universo Trans. “Um espetáculo epidérmico-sensível-agressivo sobre um olhar delicado, e quase cru, acerca do medo daquilo que não se conhece ou que se julga, mesmo sem conhecer. É um trabalho sobre verdade e necessidade de falar, de se ouvir, de gritar”, conta ele.
Universo Trans
A pesquisa para a encenação, sua proposição estética, trilha sonora e dramaturgia foram criadas a partir de fragmentos de vidas reais, coletados através de conversas com travestis, transexuais e transformistas, bem como pesquisas acadêmicas e vídeos documentários.
O espetáculo expõe histórias sobre a arte, exclusão, decadência e violência, presentes no cotidiano desta população. Entretanto, subvertendo estas tristes histórias, a obra vai além ao abordar narrativas de superação e transformação, tendo também o intuito de fortalecer e ampliar essa investigação, promovendo a valorização do ator-transformista e da criação do conceito, em teatro, da travesti enquanto alter ego do ator.
QUEM TEM MEDO DE TRAVESTI? acontece de uma parceria iniciada em 2013 com a montagem do espetáculo BR-TRANS. Esse encontro/intercâmbio possibilitou a criação de novos laços, aproximando e unindo artistas do Ceará, Rio Grande do Sul e Pernambuco.
Mostra Libertária
Como campo de experiências sensíveis, a arte tem potência para dar forma a territórios poéticos heterogêneos, onde coexistem liberdades de expressão e expressões de liberdades diversas. Mas a história efetiva das artes, tal qual conhecemos por meio de processos educativos variados, desde há muito tempo nos dá notícias do silenciamento de vozes poéticas subjugadas e do encobrimento de corpos dominados: de mulheres, homossexuais, transgêneros, negros e outros sujeitos sociais periféricos.
Ao se negar a legitimidade da presença, sabotar o lugar de fala e subjugar o protagonismo, constitui-se a contraface da condição de liberdade do campo artístico. De fato, como elemento estrutural da própria sociedade, as muitas formas de normatividade também marcam contraditoriamente a linha do tempo e os modos de produção artística. Por meio da presente mostra, o Sesc reitera o seu compromisso com a cultura e com a educação, ao trazer à baila produções e processos artísticos que debatem a liberdade de expressão concretamente, em sua imbricação com a liberdade dos corpos – que precisa ser construída permanentemente.